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Cercas: Curta metragem paraibano quebra barreiras e é premiado internacionalmente

Atualizado: 7 de mar. de 2023


O Cinema de bairro entrevistou o diretor de Cercas, Ismael Moura. Confira abaixo:


Cinema de Bairro: De onde surgiu a ideia para o curta Cercas?

Ismael Moura: A ideia inicial veio de uma conversa com meu avô, ele me contou que quando era adolescente, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, morava na zona rural e havia acabado de perder os pais, foi morar com os tios, mas passava a maior parte do tempo sozinho em uma casa, foi quando o exército começou a recrutar jovens para a guerra, os caminhões passavam nos sítios recrutando os jovens em suas casas; ele então se escondeu na mata e passou dias lá, porque não queria ir. Então a ideia começou a surgir daí, na ideia inicial não seriam cangaceiros, mas sim o exército que invadiria a casa, e seria um menino, não menina. Quando começamos a fazer vimos uma série de dificuldades, para achar figurino, caminhões do exército; então optamos por substituir pelo cangaço. Eu não queria um cangaço como sempre vemos, por isso a ideia de colocar uma mulher cangaceira, mostrando a força da mulher. O roteiro foi mudando umas três ou quatro vezes, mas as ideias foram se encaixando até chegar aonde chegou.


Cinema de Bairro: O filme é um curta com poucas falas, por que a escolha do silêncio na maior parte do enredo?

Ismael Moura: Acho que nós ouvimos muito isso, que uma imagem vale mais que mil palavras, então eu quis expressar isso, até mesmo porque a menina está só em casa por boa parte do filme, não teria com quem ela falar. Eu gosto muito do silêncio, eu gosto muito da expressão; acho que o sofrimento, a alegria a dor, expressamos muito mais através de um olhar do que em uma fala, e eu queria muito isso, um filme que desse pra você respirar, ouvir a respiração do ator, ouvir e sentir a dor da criança que perdeu mãe, ouvir o arrastado dela puxando essa mãe, a respiração ofegante, ouvir o som da natureza, da galinha. Assim como em outros filmes meus, nós quase não temos som, eu gosto muito disso.

Cinema de Bairro: Mesmo após o encontro entre Maria e os Cangaceiros ainda temos poucos diálogos, qual o motivo?

Ismael Moura: É outra coisa bem comum para quem é do interior, eu sou do interior, meus avós todos da zona rural, e são pessoas com poucas palavras; a cangaceira é sempre bem direta, a menina tem respostas bem diretas também, não se alongam nas conversas e isso passa força ao filme. Para um curta metragem o som incomoda, muitas falas incomodam, eu gosto da ideia de colocar expressão, sentimento, através de sons e não palavras.

Cinema de Bairro: O curta derivou da ideia de uma produção de longa-metragem, por que a adaptação para um curta?

Ismael moura: Na verdade a ideia surgiu de um curta e na criação de roteiro que foi virando um longa, mas não tínhamos recurso por isso optamos pelo curta. A ideia de Cercas veio de várias ideias para chegar em um produto final. Inicialmente a história seria com duas casas separadas por cercas, com duas personagens, Maria de 70 anos e Joana de 30, onde Maria acabara de perder o marido e Joana a filha. Durante a criação do roteiro percebi que estava virando um longa, então dividimos esse roteiro em três partes, e escolhemos uma para fazer o curta, onde Maria ainda é adolescente.

Cinema de Bairro: Você pensa em concluir a ideia de produzir um longa-metragem de mesmo tema?

Ismael Moura: Gostaria muito, quem sabe um dia a gente consiga pegar esse curta e transformá-lo em longa; com a ideia inicial, onde seriam três marias, ela criança, mulher e idosa. Se Deus quiser a gente consegue produzir.

Cinema de Bairro: Ismael, conta pra gente alguma curiosidade de Cercas.

Ismael Moura: Olha, uma curiosidade é que o final do filme só foi decido no último dia de gravação. Eu não estava gostando do final escolhido, todos estavam muito apreensivos, no último dia chegando no set nós decidimos. Construímos a cerca de última hora e mudamos o final.


Entrevista: Letícia Ferreira

Editor de texto: Karen Cirne

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